Refletindo um pouco...

No post anterior, refleti um pouco sobre o que interfere num projeto arquitetônico de caráter sacro. Tratando-se de um templo católico, costumo ir na contramão do conceito modernista de total releitura dos espaços sagrados, que pouco ou em nada mantém a herança liturgia tradicional do catolicismo. Projeta-se hoje uma igreja como se projeta, por exemplo, um shopping ou qualquer outra coisa "secular". Pelo menos pra mim, isso é errado!

Nada contra a arquitetura contemporânea, muito menos suas tendências e conceitos, muitas vezes não necessariamente belos, porém intrigantes e contestadores, o que os tornam interessantes. Essas obras permeiam o homem em si, suas visões do mundo, os contrastes de nossa era, enfim, considero-as importantes em suas indagações e em sua tentativa de "mexer" com o homem, mas não para uma igreja.

Um espaço sagrado, principalmente católico, deve ser essencialmente teocêntrico. Deve fazer com que o fiel seja conduzido ao sagrado, a oração e ao transcedental. Não defendo uma continuidade ou mera cópia de projetos oriundos da idade média, mas a um equilíbrio do "ontem" com a competência do "hoje".

É importante ressaltar que a visão de Tradição no catolicismo não refere-se somente a uma continuidade de costumes mantidos durante gerações. Esta na verdade é um dos pilares da fé católica, pois, assim como Jesus é um (com o Pai e o Espírito Santo), sua Palavra também é única e sua Verdade é imutável. Por isso, para a Igreja, Tradição não se trata de meramente conservar o antigo, mas afirmar que o "ontem, o hoje e o amanhã" são um só, assim como Jesus é um só independente do tempo.

Por isso, projetos arquitetônicos que focam sua atenção em si mesmos, atendendo ao ego de seus idealizadores ou anseios do homem ao próprio homem, são particularmente reprováveis. Humanamente belos? Muitas vezes sim...mas quase sempre, Deus é a última coisa da qual lembramos quando adentramos nesses locais.

Um exemplo é o badalado projetos dos arquitetos Ignacio Vicens e José Antônio Ramos para nova paróquia de Santa Monica, em Rivas Vaciamadrid, Espanha. O projeto recebeu o prêmio de "Melhor projeto de Igreja de 2008" pela prestigiada revista Wallpaper.

Os arquitetos tiveram cinco anos para criar a obra tida como de "vanguarda", toda corbeta de aço enferrujado. O projeto foi concebido em 1999 e após o término da obra, fora inaugurado após três meses pelo bispo de Alcalá de Henares, Dom Jesus Catala.

Particularmente, achei o projeto muito intrigante. Dependendo do seu conceito de beleza, concordo quando alguém o caracteriza como "belo". Mas como citei anteriormente, para uma igreja, considero-o "duvidoso". Me pergunto se alguém, ao olhar para um templo desses, principalmente a fachada, de alguma forma lembra-se de algo "sagrado". Eu mesmo não!

Vicens gostaria de ser uma referência para o design de templos no futuro, segundo ele "Nós mostramos que a igreja pode usar as linguagens da arquitetura e da arte de hoje".

Sinceramente, eu espero que não!

=D