Design Sacro: Um blog pra quê?

O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objecto como um conceito ou ideia, determinada quantidade ou qualidade. O "símbolo" é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido pelo quotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.).

Sintetizando, simbolo é um elemento, ou um conjunto de elementos, que une uma série de pessoas a um determinado conceito ou filosofia. Por exemplo, a cruz é um símbolo do cristianismo, ou seja, toda as vezes que alguém vê uma cruz, seja onde for, logo fará referência a uma igreja ou grupo cristão.

Daí chegamos até outro conceito: Se o simbolo é algo que une, logo o contrário disso, ou seja, o que divide (separa), é o diabolos, uma palavra latina que vem do grego antigo διάβολος, que em português significa Diabo. É por isso que satã é chamado de diabo, pois ele inscitou o homem a pecar e, consequentemente, o “separou” de Deus.

Enfim, pra quem trabalha com design, a simbologia é, na maioria das vezes, um ponto crucial de identificação do usuário com o produto. Ora, cremos que alguém escolhe um determinado protudo por possuir algum tipo de identificação direta ou indireta com ele, e não simplesmente por sua funcionalidade.

Quando tratamos de um público mais restrito, nesse caso, voltado a características religiosas, esta relação usuário – símbolo – produto é amplamente otimizada, pois é característico do ambiente religioso o caráter simbólico. Se focarmos então nas confissões religiosas mais antigas, praticamente todas de origem oriental, veremos que cada centímetro quadrado de cada espaço ou objeto está intimamente ligado a uma simbologia específica.

Os exemplos seriam muitos, mas todo esse blá blá blá acima é para que possamos compreender qual é o principal foco deste blog. Não se trata de instruir como projetar algo para um igreja ou grupo religioso, mas orientar o profissional da área de design para que tipo de coisa ele deve levar em consideração quando se depara, por exemplo, diante de um projeto de móveis para uma igreja ou capela, numa capa de CD gospel, na embalagem de algum produto religioso ou mesmo no conceito para concepção de uma identidade visual.

E por que isso? Ora, só o mercado de produtos “gospel” movimenta cerca de 3 bilhões de reais por ano no Brasil. São CD’s, DVD’s, revistas, camisetas, livros, cartazes, cartões, sites….aff !!!! A cada dia nasce num esquina alguma igreja evangélica nova (se isso é bom ou ruim, isso não é o objetivo desse blog!). Tudo bem, o evangelicalismo não se prende muito a simbologias como o cristianismo tradicional (católico e ortodoxo), mas seria no mínimo burrice não considerar uma série de elementos importantes na hora de se projetar algo para um grupo como esse. Como cada um se considera o dono da verdade, a busca de uma identidade é inevitável. O simples formato de uma cruz pode descaracterizar completamente a visão de trabalho de um grupo, causando uma confusão sem precendentes e, o que é pior pro designer, fazendo ele perder tempo e dinheiro!

Mesmo dentro de grupos evangélicos, encontramos o que chamamos de “protestantismo histórico”, ou seja, igrejas oriundas da reforma protestante do século XVI que possuem sim um forte apelo simbólico em seus templos, costumes, etc (anglicanos, metodistas, presbiterianos, etc). Mas é claro, quando se trata de simbologia, ninguém ganha do catolicismo e da ortodoxia. A Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa, ambas de origem comum, possuem toda sua vivência envolta num manto de simbolismos. Cores, formas, dias, horas, gestos, palavras…tudo liga alguma coisa direta ou indiretamete a outra, o que torna o trabalho do designer um desafio muito maior, pois aliar design a um simbolismo milenar, rico e complexo com certeza é motivo para perder algumas noites de sono.

E onde tem mercado, tem produção. E onde tem produção, tem que ter design!

Só pra se ter uma idéia, anualmente acontece a Feira Internacional do Consumidor Cristão, que reune cerca de 90 expositores. “A maior fatia (80%) é composta por representantes de segmentos tradicionais: editoras e gravadoras de disco. Mas há espaço para indústrias de alimentos (Superbom), fabricantes de material escolar (Pasticor Cadernos), confecções (Hpice), instituições financeiras (Bradesco) e seguradoras (Porto Seguro). Empresas de telecomunicações também pegam carona. A fabricante Ericsson e a operadora de telefonia TIM, por exemplo, aproveitam a feira para testar novos serviços, como o envio de mensagens bíblicas para a telinha do celular ou toques personalizados com músicas de louvor a Deus. A Ericsson saiu na frente e, no início de julho, lançou o celular Fiel, em parceria com a Assembléia de Deus. A idéia é oferecer o produto em redes de distribuição voltadas ao público gospel. Nesse segmento de consumo o mercado editorial continua sendo o responsável pelos maiores volumes.” (fonte: Revista ISTOÉ).

Do lado “católico” da coisa, o maior evento do Brasil é sem dúvida a Expo Católica, uma feira de produtos religiosos, pela qual, só neste ano, passaram 27.000 visitantes e, somando ao número de R$ 40 milhões em faturamento com seus mais de 180 expositores. A ExpoCatólica já é considerada a maior feira profissional do segmento religioso na América Latina.




Em expansão, o mercado religioso marca presença em diferentes realidades. São mais de 10.000 lojas de presentes e artigos religiosos espalhados pelo Brasil, tendo também livrarias especializadas que comercializam esses produtos. Além das mais de 30.000 casas religiosas entre paróquias e comunidades que são pontos de difusão da religiosidade.

Enfim, o mercado está aí e é exigente. Cabe a nós, designers, estamos intelectualmente prontos para entrarmos nele, não somente de forma metodológica, mas sobretudo, como já fiz questão de repetir inúmeras vezes nesse texto, de forma simbólica. E é esse o objetivo do blog, mostrar o que “pode ou não pode” dentro do que chamamos de “design sacro”, além é claro de sempre trazer o que há de curioso ou inovador no mercado.

Como dizem os franciscanos: Paz e Bem! :)