Quando a arte e o design se encontram com a liturgia

Não é de hoje que apresento aqui produtos assinados por designers, muitas vezes dando minha opinião crítica quanto aos elementos simbólicos que os constituem. Os resultados muitas vezes não são "felizes" por mais que o profissional tenha estudado toda sacrosanctum concilium, pois a falta de uma adequada sensibilidade litúrgica casada com a necessidade de cada profissional de se provar, acaba muitas vezes gerando produtos excessivamente constituídos por elementos geométricos sem sentido e/ou que não dialogam com o patrimônio simbólico sofridamente formado e existente dos objetos sacros.

Acredito e professo que tudo na Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo, é eterno e, no que tange ao patrimônio visual, também é eternamente bonito. Por mais que você seja fã de arte moderna e contemporânea e adore um movimento de vanguarda, é inevitável ficar pasmo com a esmagadora (e as vezes desconcertante) beleza do barroco ou do bizantino. Por isso, projetar produtos que percam todo e qualquer vínculo artístico com o patrimônio artístico pregresso (mas ainda assim eternamente belo) da Igreja, na minha opinião como designer e cristão, é bobagem.

É o caso do turíbulo abaixo, à venda no site holyart. Eu não vou nem comentar a naveta e a colher, que parecem o açucareiro da minha casa, mas vou me ater aos detalhes do turíbulo em si.


Inovador não? Eu achei!!! Olhe só, feito em latão e aço, com acabamento riscado e cabos de aço no lugar das correntes...eu achei perfeito...pra decorar minha casa! (aliás, não, porque eu não daria 603 euros nisso).

Mas pra Igreja não!

Mas Pablo, quem é você pra dizer isso? pra proibir? Quem te deu essa autoridade? e mimimimimi...

Eu não estou proibindo nada, só estou dizendo que esse turíbulo não tem absolutamente nada de artisticamente ou simbolicamente sacro. Mas se você, padre, seminarista, coroinha, bispo, ou o que quer que seja, quiser utilizar pra combinar com seu mau gosto, fique a vontade.

Como disse, eu achei o turíbulo acima bem bonito e sofisticado, o que o colocaria como uma ótima peça de decoração na casa de um cristão antenado com o que há de melhor no design. Contudo, numa igreja, cada elemento deve proporcionar um diálogo simbólico com o hoje, o ontem e o sempre. Isso não quer dizer que objetos sacros com design "moderno" não tenham espaço na Igreja, mas sim que estes objetos devem conservar os "clássicos" elementos constituintes de cada peça, como é o caso das correntes (que sejam correntes de fato) dos turíbulos, mostrando-se continuamente eternos e não menos "modernos".

A questão é sempre essa: querer quebrar todo tipo de paradigma a ponto de causar (ou pelo menos começar) uma descaracterização tão grande dos objetos a ponto de torná-los irreconhecíveis.

Um exemplo de um "bom" design que trabalha o diálogo do ontem e do hoje muito bem é o modelo abaixo:

Moderno? sim. Bonito? sim. Inovador? sim. Qualquer um reconhece como um turíbulo? sim. Posso levar pra sacristia? Sim!!!

Esse já não combina com minha casa, afinal, apesar de em nada se parecer com os detalhadíssimos turíbulos góticos, ao contrário, sendo bastante minimalista, ele mantem um apelo visual característico do objeto sacro em questão, como a cruz no topo e as correntes (sem falar na opção dourada).

Fica a reflexão, para os designers de produto de plantão, que desejam se aventurar no mundo sacro. Abaixo, mais alguns bons exemplos:

 



Paz e bem!