Abajur? Tocha olímpica? aahh...é um cálice!

Olha, eu sou designer.

Sim, isso mesmo, eu sou designer.

Por mais que eu admire toda expressão artística anterior à dita “modernidade”, e muitas vezes a defenda diante de qualquer pretensa descaracterização do ambiente religioso por parte da invasão de elementos modernos, eu não posso negar que toda minha formação acadêmica e profissional no início do século XXI como designer me leva a “preferir” elementos formalmente limpos, cuja forma valorize o ser funcional do mesmo.

Consequência de um século inteiro onde imperou os movimentos de vanguarda? Sim, e se isso for para eu escolher uma luminária para minha casa isso não é problema algum. À propósito, me abrindo pessoalmente um pouco aos meus leitores, ando fazendo isso bastante, pois provavelmente casarei esse ano e, quem casa quer casa, e quando se casa com uma arquiteta, isso fica mais sério ainda!

Mas Pablo, onde você quer chegar que esse papo todo?

Bem, é o seguinte. Eu não sou (apesar de preferir o oposto nesse caso) um inimigo dos espaços religiosos modernos. Alguns é claro (ou a maioria) deixam a desejar quanto à qualquer simbolismo que nos conduzam a compreender aquele espaço como sendo sagrado, mas alguns, eu disse “alguns” conseguem resultados bastante satisfatórios.

Mas discernimento não é um dom muito popular em nossos dias, inclusive (infelizmente) entre o clero, que muitas vezes dá margem aos maus (ou confusos) artistas, arquitetos e designers que, ou por falta de aprofundamento litúrgico ou por simples anarquia, projetam toda sorte de “esquisitice” para servir às funções sagradas.

Algumas coisas são toleráveis, apesar de nitidamente diminuir a dignidade litúrgica característica de seus elementos, como é o caso da foto abaixo, onde os sacerdotes parecem ter arrancado suas casulas das mãos das costureiras antes que elas tivessem terminado o trabalho:


De qualquer forma, é uma casula. Feia! mas é uma casula.

Mas o motivo da postagem mesmo é a foto abaixo. Quem foi, pelo Amor de Deus, que disse tanto para o bispo que está usando, quanto para o "artista" que desenhou a peça, que isso é um cálice?


É nessas horas que os críticos militantes do trabalho do Cláudio Pastro dizem: "e eu que pensei que não podia piorar...".

É sério, metodologicamente todo projeto toma por referência uma série de produtos similares que, mesmo que inovem em sua composição formal, mantêm características que deem aos usuários a capacidade de identificá-los como tal. Assim, um cálice, por mais moderno que seja, deve ainda ser e "parecer" um cálice, e não a base de um abajur!


A necessidade muitas vezes de "modernizar" visualmente a igreja não pode ser desculpa para descaracterizar o legado litúrgico/visual formado através dos séculos. Chega a ser um desrespeito ao patrimônio sofridamente desenvolvido pela liturgia através dos séculos, por empobrecer sua simbologia.