Design Sacro – Considerações

Por Pablo Neves

Já é uma discussão antiga e polêmica o conceito do design. Profissionais, estudantes, professores e pesquisadores vivem se digladiando numa infindável batalha para definir o que de fato trata esta profissão tão multifacetada. Por ser, intrinsecamente, uma ciência nova, é mais do que normal esse tipo de debate, a fim de estabelecer um conceito claro tanto para profissionais, quanto para a sociedade em geral.

O fato, é que o designer, após a revolução industrial, rouba a cena do artesão devido às necessidades da nova sociedade materialista e consumista, que exige dos produtos muito mais do que funcionalidade ou beleza, sendo essa ultima outro conceito tão polêmico. No século XIX novas necessidades socioeconômicas levaram a uma separação nas atividades ditas artísticas, havendo a partir daí uma diferenciação gradual, mas bastante evidente, entre designers e artistas plásticos.

Sendo assim, muito do que era considerado um trabalho artístico acaba por ser tutelado pelo design, ou seja, o que antes eram obras de arte única, agora precisam adequar-se ao volume de consumo e a nova visão de produtos da sociedade.

Quando falamos de design sacro, encontramos certo paralelismo no conceito da arte sacra, principalmente quanto ao objetivo daquilo que é projetado. A "arte sacra" é aquela arte religiosa que tem um destino litúrgico, isto é, aquela que se ordena a fomentar a vida litúrgica nos fiéis e que por isso não só deve conduzir a uma atitude religiosa genérica, mas há de ser apta a desencadear a atitude religiosa exigida pela Liturgia, quer dizer, para o culto divino.

Temos então que design sacro é todo projeto de cunho religioso voltado ao culto divino em si (rituais como missas, celebrações de sacramentos, etc), obedecendo os requisitos estabelecidos por normas litúrgicas específicas de cada religião. No caso, por exemplo, do catolicismo romano, há normas canônicas que devem ser respeitadas no projeto de artefatos religiosos, direcionadas para a arte sacra em si, mas que podem muito bem ser utilizadas pelos designers, para que não haja risco de exposição alguma de falso dogma.

Falando em Catolicismo Romano, o Concílio Vaticano II deu também um impulso e algumas indicações concretas para a arte sacra, que também nos servem como direcionadores dentro do que chamamos de design sacro: “A Igreja procura com especial interesse que os objetos sagrados sirvam ao esplendor do culto com dignidade e beleza, aceitando as mudanças de matéria, forma e ornato que o progresso da técnica introduz com o correr do tempo”.

Ainda dentro das recomendações canônicas para a arte sacra que são paralelas ao design, temos a seguinte declaração: "A Igreja nunca considerou como próprio nenhum estilo artístico, mas, acomodando-se ao caráter e às condições dos povos e às necessidades dos diversos ritos, aceitou as formas de cada tempo, criando no curso dos séculos um tesouro artístico digno de ser conservado cuidadosamente”

O que quero é mostrar que o objetivo simbólico da arte sacra é o mesmo do design sacro, e não começar mais uma briga fazendo comparações com arte e design, que eu mesmo não concordo.

O design aborda questões muito mais profundas como a ergonomia e gestalt, além de possuir uma metodologia específica, mas nunca é o bastante lembrar que tudo que é feito para o culto sagrado deve estar carregado de simbolismos, tão presentes e marcantes na arte sacra, que precedeu aquilo que hoje cabe ao designer.